Por Audre Lorde

Eu nasci negra e mulher. Estou tentando me tornar a pessoa mais forte que consigo para viver a vida que me foi dada e ajudar a efetivar mudanças em direção a um futuro aceitável para o planeta e para minhas crianças. Como negra, lésbica, feminista, socialista, poeta, mãe de duas crianças — incluindo um menino — e membra de um casal interracial, com frequência me vejo parte de algum grupo no qual a maioria me define como desviante, difícil, inferior ou apenas “errada”.

Da minha participação em todos esses grupos, aprendi que opressão e intolerância de diferenças aparecem em todas as formas e sexos e cores e sexualidades — e que entre aquelas de nós que compartilham objetivos de libertação e um futuro viável para nossas crianças, não pode existir hierarquia de opressão. Eu aprendi que sexismo e heterossexismo surgem da mesma fonte do racismo.

Oh – diz uma voz da comunidade Negra: – mas ser negro é NORMAL!” Bem, eu e muitas pessoas Negras da minha idade podem lembrar amargamente os dias quando não costumava ser!

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Eu simplesmente não acredito que um aspecto de mim pode possivelmente lucrar da opressão de qualquer outra parte de minha identidade.Eu sei que meu povo não pode possivelmente lucrar da opressão de qualquer outro grupo que deseje o direito a existência pacífica. Ao invés disso, nós diminuimos nós mesmas por negarmos a outros o que nós vertemos sangue para obter para nossas crianças. E aquelas crianças precisam aprender que elas não tem que se tornar iguais umas as outras de forma a trabalhar juntos por um futuro que elas irão compartilhar.

Os ataques crescentes sobre lésbicas e homens gays são apenas uma introdução aos crescentes ataques sobre pessoas Negras, para onde quer que seja manifestos de opressão em si mesmos nesse país, Pessoas negras são vítimas potenciais. E esse é o estandarte do cinismo da direita encorajar membros de grupos oprimidos a agir uns contra os outros, e por tanto tempo a gente é dividido por causa de nossas identidades particulares nós não podemos juntar-nos todos juntos numa ação política efetiva.

Dentro da comunidade lésbica eu sou Negra, e dentro da comunidade Negra eu sou lésbica. Qualquer ataque contra pessoas Negras é uma questão lésbica e gay porque eu e centenas de outras mulheres Negras somos partes da comunidade lésbica. Qualquer ataque contra lésbicas e gays é uma questão Negra, porque centenas de lésbicas e homens gays são Negros. Não há hierarquias de opressão.

Não é acidental que o Ato de Proteção à Família, que é virulentamente anti-mulher e anti-Negro, é também anti-Gay. Como pessoa Negra, eu sei quem meus inimigos são, e quando o Ku Klux Klan vai à corte em Detroit e tenta e força o Conselho de Educação a remover livros que o Klan acredita “induzir a homosexualidade,” quando eu sei que eu não posso me dar o luxo de lutar contra apenas uma forma de opressão somente. Eu não tenho como acreditar que liberdade de intolerância é direito de apenas um grupo particular. E eu não posso escolher entre as frentes em que eu devo batalhar essas forças da discriminação, onde quer que elas apareçam pra me destruir. E quando elas aparecem para me destruir, não durará muito para que depois eles aparecerem pra destruir você.