Tradução Elisa Maia  

Existe isso de “autoginecofilia” (AGF), ou seja, excitação sexual causada pela ideia de ser uma mulher? Membros da comunidade virtual transgênera asseguram categoricamente um ao outro que tal coisa não existe:”Uma coisa inventada por Ray Blanchard” “Não é AGF, porque AGF não existe.” Ambos os comentários acima vêm deste tópico, em que uma pessoa quer saber por que seu terapeuta está fazendo perguntas sobre o seu desejo de transicionar para mulher.

Há grande relutância na comunidade trans acerca da ideia de que certas pessoas do sexo masculino podem sentir excitação ao pensar em si mesmas como mulheres. Considerando que há uma infinidade de diversos fetiches, e que as pessoas podem se excitar com praticamente qualquer coisa, desde botas de borracha até árvores, parece estranho afirmar que autoginecofilia nem sequer existe. As afirmações de que AGF não existe aparecem em qualquer discussão em que alguém questiona se é realmente transgênero ou se está experimentando um fetiche sexual, como esta. “Essas coisas não existem de verdade.

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Negação de que a AGF existe, aliada ao incentivo à violência física contra o pesquisador que a descreveu, e insinuações de que ele não deveria mais ser capaz de conseguir trabalho, porque sua pesquisa é impopular entre pessoas trans. Também é curioso que existam comunidades virtuais de pessoas que se identificam como autoginófilos, que postam alegremente sobre seu fetiche e fantasias relacionadas, aparentemente alheias ao fato de que elas não existem. Homens que se identificam como transgêneras muitas vezes falam sobre o componente sexual de sua identificação transgênera.

Em um tópico, o seguinte comentário foi publicado e em seguida excluído:”Eu roubei o maiô e o usava para fins masturbatórios“. Em outro tópico, um rapaz comenta sobre fingir ser mulher enquanto se masturba, e como a coisa foi escalando: “Fingindo ser uma mulher durante a masturbação“. Em ainda outro tópico, um homem fala francamente sobre suas motivações sexuais parar querer transicionar: “Sexo é provavelmente o maior fator que me faz querer transicionar“. E ainda mais pessoas falam sobre como é excitante usar roupas íntimas femininas: “Quando uso a lingerie eu fico semi-ereto“, “Eu fico muito excitado quando penso em ser uma menina“, escreve esta pessoa, e os outros lhe asseguram que isso é normal: “Só imaginar como eu vou parecer pelada já me dá muito tesão“.

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Alguém mais fica com muito tesão quando se olha no espelho?”, pergunta outro cara. Entre as respostas, há um que fica excitado com meia-calça, e outro que se masturba com nudes de si mesmo: “Eu só preciso de meia-calça“, “Eu bato punheta com nudes de mim mesmo“. Outro rapaz se preocupa com masturbação excessiva: “Desde a puberdade sou obcecado por pornografia sissy hypno e forced fem“. Com uma exceção, os comentários são todos sobre como os hormônios vão diminuir a libido do jovem. Não se fala sobre como o consumo extremo de pornografia pode ter afetado sua sexualidade e identidade. Finalmente, vamos terminar este texto já longo com este post, em que a pessoa descreve sua excitação ao ser chamada por um nome feminino: “Eu simplesmente fico de pau duro por alguma razão“.

Vamos deixar que essas palavras falem por si mesmas, e as leitoras podem tirar suas próprias conclusões sobre a existência da autoginecofilia.

[1] Sexólogo da Universidade de Toronto, Canadá, conhecido por seus estudos e ideias acerca de pedofilia, transexualidade e orientação sexual.
[2] Pornô sissy (sissy porn) é um gênero de pornografia em que um dos homens é feito de “mulherzinha” (sissy).
[3] “sissy hypno” e “forced fem” são gêneros de pornografia. O primeiro consiste em “hipnotizar” o espectador para que ele pense que é uma mulher. No segundo, um homem força outro homem a se “feminizar”, ou seja, a usar roupas e acessórios femininos e a assumir a posição de mulher numa relação sexual, contra a vontade.